Teoria Geral da Micropatriologia: Estabelecendo conceitos modernos ao estudodas micronações
English Title: General Theory of Micropatriology: Establishing modern concepts for the study of Micronations
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Resumo
A Micropatriologia é a ciência humana que estuda o fenômeno das micronações, é a base do eixo de intelectualidade do micronacionalismo como um todo, o nome que se dá ao estudioso desta área é o de 'micropatriólogo'. Em tese, não são todos os micronacionalistas que chegam a ostentar o título de micropatriólogo, mas certamente todo micropatriólogo é ou foi em algum momento da sua vida, um micronacionalista. A Micropatriologia foi sendo debatida ao longo das épocas até que se chegou em um consenso geral do que era e do que não eram os elementos do micronacionalismo e da própria ciência que estuda este fenômeno que se extende por todas as áreas do conhecimento humano, uma vez que a atividade do estadismo exerça de seu praticante, um amplo conhecimento geral que equipare com as necessidades do Estado, tais como as ciências militares, a burocracia, a cultura e entre outros elementos que permitam que o Estado possa existir em plenitude.
Palavras-chave: Micropatriologia, Micronacionalismo, Micronações.
Introdução e desenvolvimento
O micronacionalismo é entendido como toda e qualquer forma de conjunção e divulgação de atividades que giram em torno das micronações ou que advenham delas, normalmente podemos entender este movimento como uma prática que envolvem micronações, micronacionalistas e até mesmo os micropatriólogos. O Micronacionalista é o praticante do micronacionalismo, normalmente cidadão de alguma micronação já que é bastante raro que a atividade micronacional parta da externidade do micronacionalismo, como matérias jornalísticas que venham eventualmente a abordar o micronacionalismo e trazer a existência desta prática para o público exterior, isto é, para os não-micronacionalistas.
Podemos definir uma micronação como:
i) Uma organização política e/ou cultural que tenta ou já tentou ser um Estado de facto, tais como Liberland e Sealand;
ii) Uma organização que afirma ser um Estado de facto mas que não o é de jure, tais como Molóssia e as demais micronações derivatistas;
iii) Uma organização recreativa que exerce o estadismo como forma de hobby, tais como as micronações modelistas.
No caso primeiro caso, temos movimentos históricamente secessionistas que são, para muitos, as primeiras micronações de que se têm notícias, embora que práticas semelhantes existam desde a existência do próprio Estado. Essas organizações, motivadas por diferentes interesses, deram à luz aos movimentos micronacionais existentes da modernidade e da contemporaneidade. Já no segundo caso, encontramos as micronações mais próximas das primeiras causas, isto é, àquelas que ainda possuem consigo, o caráter secessionista e os princípios primordiais nos quais os Estados se baseiam para existir, e por fim, no terceiro caso, encontramos as micronações que existem para fins recreativos, estas micronações tratam a o micronacionalismo como um hobby e afirmam possuir territórios que não condizem com a realidade, podemos mencionar como exemplo qualquer micronação modelista que afirma governar uma quantidade desproporcional de território e que evidentemente não possui jurisdição sobre o mesmo. Embora o hobbysmo seja quase exclusividade do modelismo micronacional, também é possível encontrar este elemento em micronações derivatistas, que possuem um território físico, e mesmo tendo poder para administrar sua totalidade (ou uma porcentagem da mesma) sua existência, isto é, a existência da micronação é, ainda, um hobby ou algum passatempo, afinal, as causas pelas quais levam um grupo de pessoas a formar uma micronação podem ser diversas, algumas podem ser sérias e outras, não, já que nenhuma micronação é uma nação 100% soberana.
A CATEGORIZAÇÃO DAS MICRONAÇÕES
Existem diferentes tipos de micronações e diferentes propósitos para elas, mas em tese são sempre organizações políticas modernas, e quando digo que são políticas, me refiro à necessidade primordial de exercê-la [a organização] através da atividade política que a cerca, sendo assim, toda micronação é um protoestado artificial, ou seja, um pré-estado que surgiu artificialmente e que está em status de perpétuo desenvolvimento micronacional, e não ultrapassado esta barreira que a mantém sob o status de micronação. A Artificialidade da micronação também é um fundamento elementar, pois ainda que o processo de formação de uma micronação surja de outros processos micronacionais anteriores, sempre haverá o fator cultural da pátria-mãe entre os próprios micronacionalistas, uma vez que o conceito de civilização já está completamente fundamentado e estruturado de tal maneira que seja impossível haver um verossímil desenvolvimento cultural que se assemelhe às nações existentes de jure e de facto, reconhecidas como soberanas e respeitadas por isso. A micronação então jamais poderá ter um traço não-artificial, pois todos os elementos de micronações são baseadas em conceitos existentes e bem fundamentados, ainda que seja criado um idioma novo ou alguma cultura própria de uma micronação ou de um grupo de micronações que sejam unidas por isso, e nós podemos comprovar a veracidade desta afirmação ao saber da existência dos Setores Linguísticos, que são sempre baseados em idiomas da pátria-mãe ou de qualquer outro que seja da externidade micronacional, incluindo os idiomas artificialmente construídos.
Acerca da categorização, podendo haver conceitos próprios, há, em majoritariedade, os seguintes tipos de micronações:
i) Derivatistas: são micronações que possuem significativos elementos realistas para fundamentar sua existência, como por exemplo, a utilização de territórios nas quais a micronação tenha algum nível de controle sobre a mesma, seus sistemas burocráticos são idênticos aos modelos existentes e sua heráldica, bem como sua vexilologia possuem elementos de uma estética visual voltada para uma representação não- ficcional, isto é, que não tenha elementos visuais ad absurdum, como são constantemente encontrados em projetos vexilológicos voltados para a ficcionalidade e/ou de idéias abstratas não-estadistas.
ii) Modelistas: são micronações recreativas, portanto, seus elementos são, na maioria das vezes, irreais. Estas micronações usam o simulacionismo como fundamento elementar para a sua existência, como um território fictício e/ou absurdo para a realidade da organização, um passado histórico ficcional, notoriamente conhecido como "A Saga" e a utilização de nomes voltados para a "cultura" daquela micronação, como por exemplo uma micronação que se baseia na cultura árabe e seus cidadãos usem (obrigatoriamente ou não) nomes árabes, e assim por diantente.
iii) Virtualistas: são micronações que utilizam ambos os elementos do modelismo e do derivatismo, ocasionalmente a organização possui vínculos históricos com o projeto micronacional e podem seguir sistemas "híbridos" que não são derivatistas e nem modelistas, o território passa a ser um elemento opcional por não se encaixar nem no modelo derivatista, nem no modelista.
iv) Peculiaristas: são micronações cujos elementos fundamentais estão em qualquer coisa, exceto no exclusivismo da seriedade. Estes projetos micronacionais não possuem a menor pretensão de serem levados à sério e às vezes extrapolam até mesmo o conceito do que é absurdo, muitas delas usam a sátira e outros elementos parecidos para dar jus à sua existência.
v) Especifistas: são micronações com o exclusivismo da internet, como as organizações do projeto Bitnation, o Setor Micras e demais projetos geofictícios que são intencionalmente voltados para uma prática específica.
Podemos teorizar o mundo micronacional nestas cinco divisões e tipos de micronações, onde no Primeiro Mundo estão as micronações derivatistas, no Segundo Mundo estão as micronações modelistas, no Terceiro Mundo estão as micronações Virtualistas, no Quarto Mundo estão as Peculiaristas, e no Quinto Mundo estão as Especifistas, numa divisão igualitária em que nenhum tipo se sobressaia em relação ao outro.
O PAPEL DA MICROPATRIOLOGIA DENTRO (E FORA) DA PRÁTICA DO MICRONACIONALISMO
O micronacionalismo leva consigo a prática de exercimento do estadismo, seja ele recreativo ou não, todos os demais elementos que venham a possibilitar o estadismo, são também elementos do micronacionalismo, por isso, é importante dizer que temos uma prática primária, que é a condução do Estado, e a prática secundária, que é a possibilitação do exercimento da condução do Estado, como por exemplo as estruturas burocráticas do Estado, bem como as pessoas que participam destes setores. A Micropatriologia deve estudar estes movimentos, descrever como que eles acontecem e explicar o motivo pelo qual acontecem, bem como criar uma previsibilidade sobre eles, estabelecendo leis, teorias, hipóteses, análises e demais estudos que refletem sobre o tema. O papel do micropatriólogo é imparcial e infavorecível, ele deve ser inalienável e estritamente neutro, como todo e qualquer outro cientista sério. Como não há uma regulamentação sobre esta ciência e nem sobre quem a produz, deve-se esperar e requerer que, no mínimo, o trabalho micropatriológico deva ser publicado em veículos sérios de informação, como em revistas científicas e acadêmicas ou em sites apropriados para a divulgação deste saber, não em blogs comuns ou em fóruns.
A micropatriologia deve também estudar a relação entre as micronações entre sí, o modo como se relacionam, seus conflitos, suas divergências, seus acordos e as instituições que as compõem, além de estudar a relação entre a micronação e a macronação, bem como seus frutos, isto é, o resultado do embate entre a micronação e sua pátria-mãe. Nós entendemos como "macronação" todos os países que não são micronações, ou seja, as civilizações que surgiram mediante um processo não- artificial que envolve não só a máquina burocrática, mas também os fatores cultural, social, ambiental, territorial, regional e até mesmo étnico, linguístico e religioso. Não existe um "meio-termo" entre uma micronação e uma macronação, sendo este último, um termo próprio da micropatriologia para separar a prática micronacional da prática não -micronacional. Houveram, no passado, convicções que diziam que o "macromundo" era o termo adequado para separar o micronacionalismo do "mundo real" o que é um completo equívoco desmedido, uma vez que o micronacionalismo não é uma prática "à parte" do mundo pertencente à um outro mundo, um dito "micromundo", ambas as noções "micro" e "macro" servem apenas, única e exclusivamente para separar o que é e o que não é o micronacionalismo, além de categorizar a diferença primordial entre uma micronação e um país de facto.
AS DIFERENTES FORMAS DA ABORDAGEM MICROPATRIOLÓGICA
A Micropatriologia é abordada de diferentes formas pois o micronacionalismo é abordado de diferentes formas. Veja, podemos observar o micronacionalismo pela perspectiva crítica e pela perspectiva analítica, considerando que a observação é principitente para a abordagem, como a abordagem história, filosófica, sociológica e natural, e isso depende quase que exclusivamente do objeto de estudo, se o objeto for a economia, por exemplo, o esforço intelectual será voltado para uma combinação necessária do saber matemático e do saber crítico-filosófico
Existem diferentes tipos de abordagens e campos de investigações micropatriológicas, sendo essas as principais:
A Abordagem crítica, que trata do micronacionalismo através das ações dos estadistas que fazem parte desta prática, isto é, uma crítica geopolítica de grau menor, onde apenas as ações do Estado são analisadas de modo a compreender seu impacto direto dentro e fora do micronacionalismo como um todo, notadamente são tomadas através de jornais e veículos de notícias próprios do micronacionalismo, como uma abordagem interna, sendo a abordagem externa muito rara de acontecer.
A Abordagem filosófica, que trata do micronacionalismo a partir de pressupostos da Filosofia e em especial da Filosofia Aplicada (Filosofia da Geopolítica e afins), podendo ter uma avaliação à partir de pressupostos já existentes como parte de pensamentos encabeçados por filósofos externos ao micronacionalismo, ou através de novas abordagens filosóficas em termos originais
A Abordagem sociológica, que é da mesma linha de raciocínio da Abordagem Filosófica, mas que se difere tão logo como a Sociologia se difere da Filosofia. Este tipo de abordagem avalia o cenário social do micronacionalismo sob a ótica e o auxílio das Ciências Sociais, aplicadas e abrangentes.
A Abordagem historiográfica, que é talvez a mais comum de todas e ao mesmo tempo é aquela onde faz com que o micronacionalismo abra uma extensão de compreensão da sua própria prática, é feito através da própria naturalidade da decorrência dos fatos, uma vez que todos os atos burocráticos das micronações são sempre registrados, logo, a Abordagem Historiográfica se compreende como um conjunto de práticas naturais do micronacionalismo, feita através dos Cartórios, dos Documentos de Estado e demais registros históricos. O micropatriólogo pode reunir os dados que possui da prática micronacional e realizar todos os tipos de abordagens aqui mencionadas, principalmente a Abordagem Crítica.
A abordagem estrutural, que é uma forma de analisar o micronacionalismo a partir do desmembramento estrutural desta prática como um todo, afim de compreender as estruturas que definem e sustentam todo o micronacionalismo em si, isso pode ser feito tanto em análises críticas (como uma crítica à um sistema de governo, por exemplo) como também por uma análise historiográfica (ao elaborar um trabalho micropatriológico sobre o desenvolvimento histórico de uma micronação).
A abordagem abrangente, que é toda e qualquer forma de teorização dos micronacionalismo, são chamadas de Teorias Micropatriológicas, que abordam tanto o micronacionalismo em si, como também a própria micropatriologia e também outros trabalhos micropatriológicos, analisando-os ou criticando-os do ponto de vista intelectual, ou seja, é uma forma de observar a totalidade dos eventos, como por exemplo, este próprio trabalho.
AS CIÊNCIAS COMO AUXÍLIO PARA A MICROPATRIOLOGIA
A Micropatriologia por ser uma área que estuda uma prática quase que inteiramente fechada necessita de produtos externos de estudo, como por exemplo alguns conhecimentos que já estão inseridos no meio científico, sendo eles:
As Ciências Políticas, que são os estudos da política — dos sistemas políticos, das organizações e dos processos políticos.
As Ciências do Estado, que possuem uma dimensão teórica que comanda e institui um movimento prático sobre a análise da Gestão Pública, da Administração Pública e seus derivados.
Ciências Humanas Gerais, que são áreas que abrangem a totalidade da Filosofia, Sociologia, História e afins. Na Micropatriologia, de muito poderá servir ao micropatriólogo, os conhecimentos prévios da "tríade das ciências humanas" que são as áreas mencionadas neste tópico.
AS NOVAS SUBCIÊNCIAS APLICADAS DA MICROPATRIOLOGIA
Na Micropatriologia também encontrar-se-ão áreas aplicadas do conhecimento humano para a compreensão do micronacionalismo que de alguma forma deverão ser completamente restritos ao seu objeto de estudo, sendo elas:
Sistematologia Categórica Geopolítica, que é a nova área de estudo que baseia a análise do micronacionalismo sob a ótica da Teoria dos Mundos em aplicabilidade e também estuda o comportamento das micronações em relação à ordem internacional.
Análise Geopolítica Interlinguística, que é a nova área de estudo destinada a estudar os setores linguísticos de atividade sob a ótica da geopolítica aplicada ao micronacionalismo.
AS ÁREAS QUE SÃO UTILIZADAS NO MICRONACIONALISMO PARA A PRODUÇÃO DE PROJETOS MICROPATRIOLÓGICOS
Uma coisa que precisamos compreender é de que micronacionalismo e micropatriologia são termos distintos para coisas distintas, mas uma coisa estuda a outra, um é o objeto de estudo, a outra é a área de estudo. Chamamos de "Projeto Micropatriológico" toda forma de projeto empreendido dentro do micronacionalismo, e não na micropatriologia. Então cabe aqui mencionar os elementos que compõe a estruturação de toda micronação ou outro projeto semelhante, que notadamente sempre são construídos e elaborados sob a ótica de conhecimentos já existentes, sendo elas:
A Heráldica, que é um sistema de identificação visual e simbolismo criado na Europa no século XII, baseado nos brasões de armas ou escudos.
A Vexilologia, que é o estudo das bandeiras, estandartes e insígnias e das suas simbologias, usos e convenções.
A Numimástica, que é o estudo sob o ponto de vista histórico, artístico e econômico das cédulas, moedas e medalhas.
A Filatelia, que é o estudo e o colecionismo de selos postais e materiais relacionados.
Boa parte desses saberes (e de alguns outros) são aplicados artisticamente afim de estabelecer um embelezamento estético de imagem da micronação: o vexilólogo cria as melhores bandeiras para o projeto, e o heraldista cria os melhores e mais belos brasões, tudo o que é feito subsequentemente nas outras áreas mencionadas são de objetivo principal, o de criar o belo e o magnífico, não apenas para criar uma identidade nacional, mas para fazer com que a micronação alcance a estética de excelência utilizada pelas chamadas macronações.
Considerações Finais: Acredito fortemente na necessidade de uma revisão revolucionária no campo da Micropatriologia, que está atualmente escassa e desatualizada, sobretudo no que se refere aos conhecimentos do Micronacionalismo Brasileiro, que sempre foi, por natureza, fechado e estagnado, desde os princípios do micronacionalismo latino-americano. No que condiz às minhas competências nesta área, terei ainda de fundamentar por completo alguns dos tópicos que apresentei brevemente, fazendo desta Teoria, a minha inclinação geral para o desenvolvimento e disseminação do conhecimento micropatriológico.
CHALEGRE, André Igino. Teoria Geral da Micropatriologia